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Saúde pede socorro em cidade da região metropolitana

Sem maternidade há nove anos, a população da cidade de Guaíba, região metropolitana de Porto Alegre, não tem esperanças para a abertura do novo complexo do Hospital da cidade. Sua previsão de entrega foi adiada três vezes, causando muitas expectativas nos morados. Sua última data prevê abertura para final do primeiro semestre de 2018.

Desde o fechamento da maternidade do Hospital Nossa Senhora do Livramento, em agosto de 2009, Guaíba não tem mais a mesma quantidade de nascimentos. Situado no centro da cidade, o hospital que, este ano, completaria 75 anos, agora serve apenas para abrigo de material hospitalar sucateado.  Seu encerramento total se deu em julho de 2015, tendo apenas o funcionamento da ala de radiologia e poucos internados, por problemas psiquiátricos. Agora a cidade conta apenas com dez postos de saúde e um Pronto Atendimento (PA) que atende 800 pessoas por dia, de cinco cidades próximas.

Mas a melhoria é esperada pelos moradores há oito anos, desde que começou a obra no Pronto Atendimento. Quando aberto, o hospital contará com 72 leitos, bloco cirúrgico, ala de internação, e atendimento para partos, UTI e cirurgias de emergência.  Sua previsão de atendimento será de 400 mil habitantes, das 19 cidades da região.

Mães aguardam abertura

Enquanto isso não acontece, os moradores de Guaíba precisam se deslocar até o hospital mais próximo, que fica na capital, a cerca de 35km da cidade. Durante esse percurso  as mulheres em trabalho de parto encontram muito medo porque, às pressas, precisam correr para chegarem a tempo e terem seus filhos em boas condições, precisando enfrentar um longo caminho até o atendimento necessário. Ainda há o risco de encontrar, na chegada a Porto Alegre, o vão móvel da ponte do Guaíba içado – que demora, em média, 30 minutos para liberar a passagem.

Eu tenho medo de acontecer alguma coisa com o bebê. Se eu me sentir mal, sentir dor ou até entrar em trabalho de parto, da minha casa até o hospital mais próximo dá mais de uma hora. E em caso de uma emergência o tempo de espera é um fator importante.”, relata Francielen da Luz Pires, grávida de 34 semanas, mais uma moradora de Guaíba que precisa de atendimento na capital. Ela comenta que todos os médicos a encaminharam para ter seu filho em Porto Alegre, pois no Regional – o Pronto Atendimento -  não podem ser realizados partos, pela falta de médicos especialistas e por não ter o equipamento necessário. Por essa razão, muitas mães, assim como ela, recorrem até os hospitais Clínicas ou Presidente Vargas, que ficam mais próximos, aumento a situação de superlotação deles.

Guaíba, que conta com 100 mil habitantes, aguarda a nove anos pela abertura de sua maternidade, deixando de atender 1000 novos bebês por ano. Desde 2009 o número de naturais da cidade baixou de uma maneira intensa, contando apenas com a maternidade privada do Hospital Unimed. Para as mães de baixa renda, que não contam com o plano de saúde, resta apenas se preparar para o dia do parto, contando que não hajam imprevistos durante o caminho. “Eu fico frustrada. Acho um absurdo os guaibenses terem que nascer em outra cidade. Eu queria muito que o Pedro, meu filho, nascesse em Guaíba, assim como eu e meus irmãos porque é mais perto e de fácil acesso pra chegar em caso de emergência. Grávida não tem hora, não pode esperar”, diz Francielen

Como único apoio às gestantes, Guaíba conta com atendimento de pré-natal nos seus postos de saúde, tendo como referência o Unidade Básica de Saúde (UBS) Saúde da Mulher, localizada no centro da cidade. Lá as mães encontram amparo médico para seus bebês, como atendimento clínico, ginecológico e obstétrico, mas não podem fazer exames como ecografia pois a cidade não tem o equipamento necessário. Para isso, precisam arcar com exames em clínicas particulares, chegando à R$80 reais o custo de uma sessão. “Nós gestantes deveríamos ter um fácil acesso as consultas e atendimento, como a realização de todos os exames necessários. Isso diminuiria os custos, porque até Porto Alegre dependo de ônibus. Eu estou de 8 meses e já fiz três ecos, porém muitas gestantes não têm condições de pagar por tudo isso.” conclui Francielen.

“Optei por pagar”

Guaíba conta com o Hospital Unimed, que concluiu suas obras no ano de 2010, tendo atendimentos diversos, como cirurgias, UTI e maternidade. Muitas mães, com medo de terem seus filhos longe de casa, optam pelo particular, arcando com os altos custos que seu atendimento gera. “O que me levou a escolha da Unimed foi a falta da maternidade. Preferia que meu bebê nascesse aqui na cidade, mas como a única maternidade era ali, não tive dúvidas: optei por pagar. A primeira coisa que eu fiz foi me organizar com o plano de saúde para já deixar tudo certo para fazer lá o parto.” Conta Aline Steinmetz, 25 anos, que teve sua filha há cinco anos pelo sistema privado de saúde.

Ela conta que o atendimento é excelente, e que teria outro filho ali, por conta de sua qualidade, pelo plano cobrir toda a operação e pela segurança de ter sua filha na cidade onde mora. Essa não é uma opinião isolada. Francine Santos da Rosa, 22 anos, teve seu filho há três anos ali e diz que, se pudesse escolher, optaria pela Unimed de novo. “Escolhi esse lugar por não precisar enfrentar estrada pra chegar na maternidade. Tive muito medo de algo acontecer e não dar tempo de chegar até lá. Tudo passava pela minha cabeça, inclusive a ponte estar trancada e piorar a situação”.

Mesmo com os altos custos, elas comentam que pagariam mesmo se não tivessem plano de saúde. Aline diz pagava uma mensalidade de mais de R$500 reais por mês para cobrir todo seu procedimento. Um valor elevado, mas que não se mede perto dos benefícios de estar a minutos de casa. Para aquelas que podem pagar esse valor, é a única saída possível de ter seu filho natural da cidade.

Ainda há esperanças

Para aquelas mães que não têm condições, existe a esperança da abertura da maternidade do hospital Regional. Quem promete isso é Jocir Panazzoli, recém empossado secretário de saúde da cidade de Guaíba. Com problemas de lavagem de dinheiro na área da saúde, a cidade passa por uma série de afastamentos, incluindo o último secretário de saúde, que estava a apenas meio mandato no cargo.

Segundo Panazzoli, a obra se encontra em estágios finais, estando com 80% concluída, tendo toda a estrutura física garantida. Mas o que impede sua abertura são os problemas que restaram da outra direção. “O nosso objetivo final é abrir a maternidade do hospital, mas primeiro estamos tentando colocar a casa em ordem. A cidade ficou quase 40 dias sem secretário e tem muitas coisas pra ser resolvidas em questão da secretaria.

Outro impedimento relacionado a isso é a falta de verba. Com o atraso das obras, o material que tinha sido adquirido se deteriorou e precisa ser trocado. Isso gerou gastos para a prefeitura, aumentando o valor do término da Maternidade. “Falta pouca coisa para ela ser aberta. Mas o problema todo não é a abertura do hospital, mas, sim, o custeio. O valor se encontra em torno de R$ 3 milhões, que a gente está tentando buscar no estado e no Governo Federal. Enquanto não vem, a gente vai tentando através da CMPC (empresa sediada na cidade, de fabricação de papel e celulose). Vai ser uma PPP (Parceria Pública-Privada) entre ela e o município”.

Quando questionado sobre prazos, o secretário preferiu não estipular um tempo, mas disse que a prefeitura está fazendo todo o possível para abrir a maternidade o quanto antes. “É um dos sonhos da gente, da população. Eu vou trabalhar intensamente pra isso, porque está como o maior objetivo da nossa gestão”.